Tratamento e fístulas vesico-intestinais
As fístulas vesicointestinais consistem em comunicações anômalas entre a bexiga e o intestino, podendo resultar na saída, mais frequentemente, de gases e odor fétido pela urina e, em casos mais graves, até mesmo de fezes pela urina.
Sua ocorrência está geralmente relacionada à presença de processos inflamatórios pélvicos com abscessos tubo-ovarianos, apendicite ou diverticulite complicada, não tratadas. Doenças neoplásicas do útero, ovário, próstata, bexiga e cólon (intestino) também podem resultar em fístulas vesicointestinais, decorrentes da invasão do tumor que pode comprometer o intestino e a bexiga, promovendo essa comunicação, ou relacionadas ao tratamento por radioterapia, que também pode lesionar as paredes dessas estruturas e, consequentemente, resultar na fístula.
O tratamento dessas fístulas pode ser desafiador e demandar tempo e mais de um procedimento. O tratamento pode ser cirúrgico, onde o cirurgião tentará descolar as duas estruturas e realizar o reparo. Entretanto, esse tratamento muitas vezes é contraindicado devido ao alto risco de poder lesionar ainda mais essas estruturas na separação dos órgãos, especialmente quando já há um processo inflamatório que deixa o local mais aderido e friável à manipulação.
Por esses motivos, muitas vezes as fístulas vesicointestinais são tratadas de forma conservadora (não cirúrgicas), realizando apenas a higienização e aguardando que fechem sozinhas com o tempo. Muitos casos, no entanto, podem não fechar ou demandar muito tempo para isso.
O fechamento percutâneo das fístulas vesicointestinais é uma ótima opção de tratamento. Dispositivos foram desenvolvidos para este fim e a escolha do melhor método dependerá da anatomia e do tempo de fístula.
O primeiro passo no tratamento consiste na identificação de abscessos locais. Se houver a presença de abscessos, estes devem ser tratados, idealmente por meio da drenagem percutânea guiada por ultrassom ou tomografia. Muitas das fístulas já serão ocluídas neste momento e o problema será resolvido. Algumas, no entanto, refratárias, poderão ser submetidas à embolização percutânea do trajeto.
A embolização consiste no fechamento do trajeto, que pode ser promovido pela colocação de cola cirúrgica, pela cauterização do trajeto com laser ou radiofrequência. Em alguns casos, pode ser necessária mais de uma sessão para a completa resolução da fístula. Casos mais complexos podem necessitar também da colocação de uma prótese colônica que revestirá a mucosa da fístula e ajudará no seu fechamento. Esta prótese geralmente permanecerá por 3 a 6 meses e deverá ser retirada após esse período. O implante dependerá da localização da fístula, uma vez que ocorrências em locais muito baixos, perto do ânus, podem determinar a sua expulsão espontânea ou sintomas de tenesmo importante.
Outros dispositivos, como um tampão de matriz extracelular ou mesmo plugs, podem ser melhor indicados em alguns casos, ocluindo o trajeto de forma mais permanente e abrangente do que a cola cirúrgica ou cianoacrilato.